Me tornar quem eu sou já estava antes escrito
- Walleska Santiago
- 25 de fev.
- 3 min de leitura
Especificamente hoje, dia 23 de fevereiro, li uma resposta que ajudou a responder muito das minhas também. Deixarei aqui: Ana Suy foi perguntada sobre o que a fez escolher algo e ela lindamente disse “ser incapaz de abri mão daquilo”. Automaticamente olhei pras minhas escolhas e soube onde as fiz por conta própria e onde não. Meus sins e meus nãos fizeram um tanto mais de sentido. Olhei pra mim novamente, pra quem eu fui e aonde precisei pisar pra saber o que sei hoje, que não é quase nada sobre a vida, mas sobre mim é gigante, imenso.
Atualmente tenho sido colocada em tantas escolhas, eu fui, enquanto mulher, sempre ensinada a fugir da responsabilidade de tê-las, o que é melhor se não outra pessoa decidindo por mim? O que é melhor se não ter alguém pra responsabilizar se algo não der certo que não seja eu? Nada nunca é minha responsabilidade se é alguém que escolhe. O lugar, a data, o tempo certo, o que comer, quando, aonde, por onde, atrás do que, etc. Sustentar o que se deseja não foi algo ensinado a mulheres e as que faziam, vocês já sabem, né?! Primeiro foram queimadas, depois estudadas, faladas e hoje são acusadas. Sim, eu sustento quem eu sou e o que quero, mesmo que isso doa em você, mesmo que você não consiga fazer o mesmo e mesmo que precise que eu seja menor. Haja coragem pra isso!
Lembro chegar ao meu avô durante as férias e dizer que iria acampar. Mas eu não estava perguntando se podia, se deixavam, eu estava comunicando que iria acampar. Como fica forte alguém que esta segura de ser amada (estou parafraseando uma frase de Freud, que se encontra numa carta escrita em 1882). Minha avó logo se espantou, como de costume e me interrompeu a fala dizendo pra eu não inventar, mas meu avô conhecendo a mente criativa que eu tinha e mais, entendendo que eu não estava pedindo autorização, apenas fez a coisa mais linda assegurando minha confiança em mim mesma, uma pergunta rápida e pratica: mas como você fará isso? E ali minha mente escorreu, as palavras saiam da minha boca mais rápido do que meus dedos digitando nesse notebook. Contei o plano, a estratégia, a logística, a ordem do que faria e como executaria. Ele apenas me disse “ótimo, sugiro que leve uma lanterna também”, foi me entregando a ferramenta necessária, eu peguei e sai faceira, seguindo meu script. Ele pediu para que armassem a barraca perto da casa, dentro ainda dos muros que ligavam meu acampamento a parte da proteção. E eu fui! Foram algumas horas, algumas ordens desfeitas e muita sustentação do que queria e tive. Voltei pra casa antes do que gostaria e ao falar com meu avô perguntando se podia entrar em casa pra dormir, pois aos 7, 8 anos tive medo de dormir com os sons dos bichos da fazenda e a imensidão de tudo incerto que existia lá fora e eu não conseguia reconhecer pelo canto, rastro, pisada ou grasnado ele me recebe dizendo: “você passou mais tempo do que eu imaginei que qualquer menino passaria, te esperei aqui muito antes e você veio só agora, é mesmo muito corajosa!”.
Eu entrei, sorri, respirei fundo, não como pensava ter perdido voltando pra casa, mas com uma vitória de ter ido e sustentado. Parafrasearei novamente para concluir, uma das dedicatórias mais lindas que já vi: Ao meu avô, João Santiago, seu Joãozito - como o chamavam, por ter gostado muito de mim, me deu confiança pra viver, pra me exibir. Não tive medo de ser ridícula, não tenho medo de morrer. Porque fui amada!
Com amor, esse que me deram, Walleska Santiago.
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